De Sydney até Melbourne

Fizemos a viagem em dois dias. No primeiro o plano era dormir em Merimbula, uma cidade litorânea ainda no estado new South Wales, cuja capital é Sydney. Dirigimos durante todo o dia passando por paisagens constituídas basicamente por verdes pastagens e alguns morros baixos. O Astro-rei brilhou durante todo o dia.


Um trecho muito lindo do percurso foi a travessia da Rain Forest. Subimos muito até chegar à região de altas árvores, neblina, e clima bem mais frio. Paramos num mirante localizado no ponto mais alto da estrada antes de começamos a descer novamente desta vez rumo ao litoral.

Mirante no ponto mais alto da estrada bem no coração da bela vegetação da Rain Forest.

Chegamos em Merimbula por volta de 7 e meia da noite, cansados mas felizes pois poderíamos tomar um belo banho, jantar tranquilamente e ter uma boa noite de sono antes de seguir viagem no dia seguinte. Pura ilusão. Simplesmente não nos demos conta de que a cidade estava lotada devido ao reveillon. Fomos a vários hotéis e pousadas, sem sucesso. Nos aconselharam a tentar hospedagem em Bega, uma cidadezinha que fica a 30 Km de Merimbula. Assim fizemos, esperançosos. Chegamos em Bega antes de 9. Paramos em todos os hotéis pelos quais passamos e nada de disponibilidade. Um senhor muito simpático nos desanimou completamente, disse que não acharíamos vaga em nenhuma das cidades litorâneas na redondeza, mas poderíamos tentar viajar por mais 80km em direção ao interior para uma cidade da qual não lembro o nome, onde talvez conseguíssemos. Diego não tinha ânimo de dirigir nem mais 1 km quanto mais 80. Decidimos que dormiríamos no carro. Fomos em direção ao centro da cidade procurando um lugar mais seguro para estacionar o carro e vimos um bar com uma placa que dizia “hotel”. Resolvemos checar. A visão do interior do local não era nada animadora e Diego nem queria entrar, mas eu o convenci, já que qualquer cama era melhor que um banco de carro que nem poderia ser deitado devido às bagagens. Assim que abrimos a porta, recebemos uma lufada de ar carregado de álcool. Pensem num bar com uns dez gatos pingados completamente bêbados. Ao fundo a escada que levava aos quartos, localizados no andar de cima. Fomos conversar com a garçonete, super simpática, que nos disse ter apenas um quarto com cama de solteiro disponível no momento. Nossa, foi como ouvir que era um quarto com cama king size e travesseiros de pluma de ganso. Topamos na hora. Nem vale a pena entrar em detalhes quanto a baixa qualidade do quarto. Estávamos com fome, e não havia nem um único lugar aberto na cidade para vender um sanduiche sequer, nadica de nada. Nesse bar havia uma máquina de junk food (amendoim, batata frita), que foi o que comemos acompanhado de cerveja pra tentar matar a fome. Conseguimos descansar o mínimo necessário para prosseguir viagem. No dia seguinte saímos de Bega às 8 da manhã, passamos por lindas paisagens costeiras,.

Lindíssimo por do sol

Paisagem costeira que nos acompanhou durante grande parte da viagem

Chegamos em Melbourne por volta de 7 da noite, ansiosos para chegar na nossa casinha, conhecer a dona da casa, tomar um belo banho e cair na cama. Outra puríssima ilusão. Fomos recebidos calorosamente pela dona da casa, que nos pediu mil desculpas “mas a casa havia acabado de ser construída e seria necessário fazer uma limpeza.”. Estávamos anestesiados de cansaço. Entramos na casa e vimos uma camada de pó branco no chão (acho que as paredes tinham sido lixadas), não havia armários, nem cama, nem cadeiras, apenas uma geladeira. Minha vontade foi dar meia volta e ir para um hotel, mas precisávamos economizar grana. Ela sequer ofereceu ajuda para fazer a limpeza, apenas trouxe o aspirador de pó, um balde e um esfregão. Estava um calor de matar (algo em torno de 42 graus, um dos dias mais quentes que vimos até hoje). Eu e Diego limpamos tudo, sem questionar, loucos para acabar logo. Inflamos nosso colchão de ar (ainda bem que levamos), comemos pão com atum e leite de soja que ela nos deu, e dormimos com o ventilador em cima de nós. No dia seguinte tivemos que dar uma faxina no banheiro, que ficava fora da casa e também estava uma lástima. Eu não conseguia acreditar na situação, mas agia no automático. Esse dia era 31/12 e à noite fomos com ela e as duas filhas para a casa de uns amigos em Santa Kilda, coração de Melbourne na baía de Port Philip Bay para a noite de Reveillon. Compramos uma garrafa de vinho, comemos churrasco com batata assada e salada, e quase não conseguimos esperar a virada de tão cansados. Caiu uma tempestade fortíssima, que escureceu todo o céu de Santa Kilda. Assim começou nosso ano de 2010.


Ventania forte, tive que segurar o vestido.

Temporal armando antes da virada…

Moramos nessa casa por quase três meses. Fica situada em St. Andrews, uma área rural de Melbourne, lindíssima, natureza exuberante. Vários pássaros que nunca havíamos sequer imaginado existir, muitos cangurus, coelhos, e coalas – esses últimos infelizmente nunca vimos.


O cottage onde moramos durante os dois primeiros meses

Teo curtindo a luz do nascer do Astro Rei

Esse banquinho fica de frente para uma montanha linda

Beladona – um perfume delicioso!

Canguru que sempre nos visitava – foto tirada da janela da cozinha

Incontáveis coelhos na região

Últimas da fazenda...

Cada céu estrelado de babar

Últimas da fazenda...

Pôr-do-sol de outono – me lembra o céu de Brasília!

Apesar de toda a beleza natural, eu queria mudar de lá desde o primeiro dia. Banheiro fora de casa nunca mais. O xixi noturno era um problema pois para chegar ao banheiro precisávamos dar vários bons passos, correndo o risco de pisar em cocô de cachorro e cavalo. Aí adotamos um baldinho vermelho para ser nosso penico – sucesso total! Mas teve uma noite em que eu bêbada de sono, terminei de fazer meu xixizinho no penico, e na hora de colocar de volta no chão, deixei o penico virar. Nossa, escorreu xixi para todo lado. Acordei Diego e fomos nós de madrugada limpar xixi. Além disso, recebíamos visitas diárias de aranhas enooormes, até Diego fazer maravilhosas fly screens (tela protetora contra insetos) para as janelas. Diego fez também um maravilhoso suporte de madeira para a mesa de jantar (pois a dona da casa só tinha o tampo), fez outro suporte para a bancada do escritório dele, cavou uma trincheira para evitar que a água da chuva entrasse em casa, ou seja, implementou várias melhorias na casa, além de ter ajudado a carregar armários, sofá e aquecedor que ela conseguiu emprestado com amigos. A dona da casa era um outro problema, bem grande. Uma carente emocional de carteirinha. Por várias vezes a consolei, ouvi suas lástimas e a deixei chorar no meu ombro. Mas fui me cansando, pois ela (inconscientemente, quero acreditar) suga toda e qualquer energia disponível ao seu redor, demanda demais de todos. Como em St.Andrews não há transporte público, eu pegava carona com ela para ir e voltar da escola, pois as filhas dela estudam na mesma escola onde estou fazendo meu curso (http://www.steinerseminar.com/). Essa convivência diária esgotou minha reserva de disponibilidade emocional com relação a ela e me fechei. Evitava longas conversas, me atinha ao básico. Sou super grata a ela pois através de um livro que ela me emprestou (“The Key to Self-Liberation-1000 Diseases and their psychological origins” da autora Christiane Beerlandt) eu tive insights maravilhosos sobre a causa do vitiligo que apareceu no meu olho direito há cerca de 2 anos atrás – recomendo o livro! Bem, queríamos nos mudar de lá mas ficávamos receosos pois lá pagávamos pouco. Até que surgiu uma oportunidade para mim e uma colega de curso, a Manda, uma indonesiana fofa, limparmos o jardim de infância todos os dias após a aula. Meu primeiro emprego em Melbourne, que me rende quase 200 dólares por semana por 9 horas de trabalho. O Universo é perfeito: para pegar esse part time job necessariamente nós teríamos que nos mudar de lá, pois eu não teria como voltar para casa sem a carona dela. Maravilha! Teríamos 3 semanas até o início desse emprego para encontrar um novo lugar para morar. No mesmo dia em que comunicamos essa decisão a ela, já surgiu um novo inquilino, que é um sul-africano que faz o curso junto comigo. Ótimo, tudo fluindo. Começamos a procurar casa para alugar. As imobiliárias aqui são muito rígidas na análise de cadastro, e não foi fácil conseguir aprovação. Visitamos várias casas, fizemos várias aplicações sem sucesso. E lá se foram as 3 semanas: eu teria que começar a trabalhar mas não teria como voltar para casa. A solução que arrumamos foi alugar um carro, o que levaria uma boa parte do que eu receberia, mas seria apenas até nos mudarmos. Conversando com a Manda sobre isso, ela simplesmente olha para mim e me diz que tinha um carro para me emprestar!!! Não pude acreditar! E assim foi: na mesma semana em que comecei a trabalhar, também fiquei livre das desgastantes caronas. Lindo!!!!!! E nessa mesma radiante semana resolvemos aplicar para um casa cujo anúncio já havíamos visto algumas vezes, mas não nos animávamos pois o contrato de aluguel é de apenas 6 meses, ou seja, teríamos que nos mudar novamente ao fim desse período. Novamente, Diego e sua bela intuição, e… bingo!! Fomos aprovados! Nossa, felicidade demais! A casa é linda, a nossa cara, fica a 10 minutos de caminhada até a estação de trem e ao centro comercial local, e a cinco minutos de uma academia e parque aquático maravilhosos. Mas não tínhamos móveis e nem utensílios domésticos, apenas uma excelente máquina de lavar roupas que compramos por 40 dólares em uma garage sale. Nem foi preciso esforço. Ganhamos um cama japonesa linda e super confortável da Anne, que trabalha no escritório da escola, uma TV em excelente estado do Geoffrey, um professor da escola, e uma geladeira frost-free de 480 litros antiga mas em excelente estado de um cara gente boa que encontramos em uma outra garage sale, com quem estávamos conversando casualmente e dizendo que estávamos atrás de uma geladeira, e ele “Pode pegar minha lá em casa, pois compramos outra recentemente”. A mesa, também de excelente qualidade, encontramos perdida na rua, assim como o criado-mudo, uma poltrona fantástica e um aspirador de pó. As pessoas fazem muito isso aqui, colocam itens dos quais querem se desfazer na frente das suas casas e quem quiser pode levar. Os utensílios de cozinha compramos de uma colega de curso que queria se desfazer das coisas do pai que foi morar na China, e nos vendeu super barato. Em lojas de artigos de segunda mão compramos uma M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-A máquina de café expresso por 17 dólares, um aquecedor por 5 dólares, uma torradeira Black & Decker por 4 dólares, e por aí vai. Assim montamos nossa casa. E estamos felizes demais, no nosso cantinho que é lindo!


Primeiro amanhecer na casa nova!!

Café da manhã: omelete, pão integral torrado com abacate e chá (!) + autobiografia do Rudolf Steiner + contrato de aluguel do nosso novo cantinho!!!!!! 🙂

Foto tirada de celular, já no nosso novo cantinho, pra mandar pro Igor, meu cunhadim querido!


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