Sufoco

Aos cinco anos de idade, quando meus pais se separaram, eu desenvolvi asma. Acho que foi a forma que meu corpo físico encontrou para externar o desespero que  senti ao ver meu pai amado afastar-se de mim. A falta de ar que acompanha as crises de asma é terrível, a sensação é de que pode-se realmente morrer sufocando. E essa é uma perfeita analogia ao sentimento que eu devo ter experienciado ao perder contato com o amoroso pai da minha infância. Tive pouco contato com ele após a separação. Posso contar nos dedos as vezes em que nos encontramos até a sua morte decorrente de um derrame fatal há 17 anos atrás. E a dor que novamente senti foi tão grande que eu menti pra mim mesma que nada senti. Nenhuma lágrima derramei. Tranquei a dor, amedrontada que essa fosse tão grande que eu pudesse sucumbir. Mas a dor ficou lá dentro de mim, muda num canto escuro. Tive coragem de dar voz a ela há 5 anos atrás durante o processo. Era enorme a dor. Chorei um oceano de lágrimas que lavaram minha alma e me trouxeram alívio. Declarei meu amor por ele, algo que antes nunca havia feito, e sei que ele estava lá presente para receber meu amor. Não, não sucumbi.  Longe disso. Liberei, desobstruí. Livrar dor trancada e raiva reprimida opera milagres na alma e no corpo, posso assegurar. Hoje, quando sinto saudades do meu pai, simplesmente fecho os olhos e o chamo. Ele vem na mesma hora, amoroso como sempre. Eu o abraço, o beijo, conto sobre mim, ouço sobre ele. Assim nos nutrimos no nosso imenso amor até que possamos novamente nos encontrar no mesmo plano existencial. Te amo pai.

Voltando à história da asma, quando essa surgiu, eu fiz um tratamento com vacinas por 3 anos e fiquei curada por muito tempo.  Meu corpo continuou reagindo aos fatores alérgenos (poeira, mofo, cigarro, pêlo de gato e cachorro) mas sem a falta de ar e a opressão no peito que me levaram a salas de emergência de hospitais durante a minha infância.  Fui ter uma crise novamente aos 30 anos e agora aos 38, mais precisamente anteontem.

Fomos convidados por um casal de amigos para jantar na casa deles e depois dormir lá, pois eles moram num local muito lindo mas afastado e nós ainda não temos carro. O meu primeiro impulso foi dizer não, pois Diego havia me dito que eles têm gato e vários cachorros. Eles são pessoas ótimas, eu estava com vontade de experimentar o cozido de carneiro e o cuscuz que o italiano Mimo havia feito, mas o ambiente não me parecia aprazível. Eu até gosto de gatos e cachorros,  mas meu corpo ainda não. Cheguei a pensar em sugerir que Diego fosse sozinho (e essa teria sido a melhor solução) mas não quis ser desagradável com nossos amigos. Decidi tomar um anti-alérgico antes de ir e levei outro, caso a situação se complicasse – e por complicação eu estava esperando nariz entupido, olhos coçando, espirros e dor-de-cabeça. “Santa ingenuidade, Batman!”. A noite foi muito agradável, a comida deliciosa, música excelente e papos inspiradores. Eu tentava manter distância do gato cujo nome é… Batman, e os cachorros ficaram do lado de fora da casa, mas os pêlos estavam por toda parte. Meu nariz começou a entupir, os olhos começaram a coçar e eu sabia que minhas células já estavam em operação de guerra, incansáveis e compreensivas com a irresponsabilidade da mestra que sou eu. Tomei o outro anti-alérgico e fomos… dormir? Que nada. Meu peito começou a chiar alto, esforçando-se pra trazer ar através dos brônquios fechados. A tosse seca foi piorando assim como a falta de ar. Eu tentava manter a calma mas experienciei momentos de desespero. Diego foi um excelente companheiro, pois é muito calmo e me ajudava a serenar a respiração.  Foi uma agonia. Eu não conseguia ficar deitada, em pé ou sentada. A falta de ar gera uma ansiedade sem fim e devido ao esforço para respirar, lá pelas tantas também comecei a sentir dor no peito. Diego ligou para o telefone de emergência do nosso seguro de saúde e os hospitais mais próximos ficavam a cerca de 60 km. Não havia farmácia 24 horas na região, é um local bem ermo. E sem carro, não nos restava outra alternativa a não ser acordar nossos amigos. Enquanto Diego estava no telefone obtendo informações, eu tentei me acalmar. Chamei meus anjinhos e pedi pra eles me ajudarem. A respiração serenou um pouco e o cansaço causado pelo esforço em respirar me ajudou a dormir. Acordei às 8 da manhã, ainda com falta de ar, e nossos amigos nos levaram a um hospital. Eu e Diego estávamos mortos de cansaço, pois não dormimos quase nada. Assim que fui medicada, senti um alívio imediato. Vou ter que continuar usando a bombinha por duas semanas e hoje ainda sinto um certo cansaço, mas não tive mais falta de ar, graças a Deus.

Eu passei por essa experiência desagradável porque não quis desagradar a outros. E isso é falta de amor e respeito próprios. Durante boa parte da minha vida  eu deixei de ser eu mesma para ser aceita por outros. Sufoquei anseios porque não eram bem quistos e vistos. Engoli palavras, escondi potenciais, expressei falsas, mas por outros desejadas, posturas. Eu achei que já tinha superado completamente essa mania de não ser eu. Essa crise de asma me fez ver que ainda havia um resquício. Havia, do verbo mais não há – ao menos nesse aspecto.  Pedi desculpas a minhas amadas células e prometi que não irei expô-las nova e deliberadamente a outra situação dessa. Minha vó me falou sobre um médico de Guarapari que parece ter sucesso no tratamento de alergias. É necessário tomar vacinas diariamente por cerca de 2 anos. Assim que possível vou tentar essa alternativa, pois Diego ama cachorros e eu também gostaria muito de ter um amigo cão. Mas até lá certamente desapontarei alguns.

 

Eu e meu amado pai Enio em Brasília, onde morei dos 3 aos 5 anos de idade e depois dos 28 aos 37.


13 Comments

  1. Tula

    Amigaaaaaaaaaaaa, me senti sufocada so de imaginar o seu desespero, sua falta de ar… te cuida, e acho q tenho tb esse problema de canceriana? nao sei, essa coisa de fazer p agradar os outros… ruim isso eu sei… fica bem !!! bjus 🙂

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  2. Rita

    fields, não sabia da história da asma. lembro-me de suas alergias, mas não conhecia a gravidade delas. que pena sobre o ocorrido. entendo que, antes, vc se anulasse por causa de outros. isso ocorre com quase todo mundo, às vezes ou em fases da vida em que nos entregamos mais ao externo, procurando aprovação e afago. mas não acho que, nessa situação, vc foi ao jantar por querer agradar os outros. acho que vc, na verdade, queria mesmo ir à casa de seus amigos. e o desejo foi maior que o medo da asma. vc enfrentou o perigo, e, de certa forma, isso é bom. e como vc não tinha asma há muito tempo, como saberia que ela voltaria? pra saber se vc estava realmente curada, era preciso expor-se ao perigo, tirar a prova. e foi isso que vc fez, até inconscientemente. sabendo, agora, sem ficção, que não está curada, vai tratar-se e, com fundamento e prova, evitar situações em que haja perigo de alergia. pra mim, a situação foi providencial e necessária. e o melhor: vc conseguiu se safar dela.

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  3. Nina

    brigada tulips! eu to bem agora 🙂 pois é, agradar aos outros e desagradar a nós mesmos não é bom não né… mas a gente chega lá amiga! beijos e muitas saudades

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  4. Nina

    ei fields! é um ótimo ponto de vista, obrigada 🙂 eu queria mesmo ir, adoro socializar, mas meu bom senso ou intuição me diziam pra não ir; eu acho tão ruim quando tenho alergia, pois tenho q tomar aqueles anti-alérgicos q me deixam sonolenta e improdutiva, q eu estava tendendo mais a ficar em casa, mas acabei indo, porque queria e também para não ser desagradável; mas como vc disse, nada é por acaso e a situação acabou sendo providencial…. e agora vou tentar me preservar mais até q quem sabe eu consiga uma melhora quiçá uma cura! beijos e saudades!!!

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  5. Tati

    amiga,
    que post mais lindo!!! adorei ver a sua foto com seu amado paizinho. hoje(06-07) meu pai faria 72 anos se estivesse ainda aqui… me emocionei muito com seu amor declarado por ele e gostaria de aproveitar o seu blog p tb externar o meu amor pelo meu pai amoroso!!! obrigada amiga!! eu e jr tb fazemos hoje 9 anos que estamos juntos!!! eeeeeeee!!
    quanto a asma amiga, a vida é assim mesmo , cheia de riscos e de aprendizados né!! fique tranquila que logo vc estará bem de novo.
    amei falar com vc no face. ri tanto… e até tive uma idéia. porque vc não sugeri uma palestra na sua escola de saúde bucal, acho que seria uma ótima forma de informar e ensinar o pessoal daí como se faz p ter dentes lindos e um sorriso colgate como o seu!! bjsssss!!!!!

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  6. Tati

    amiga,
    vc parece demais com seu pai!!! nossa gostei tanto de ver essa foto… acabei de mostrar p jr e ele(jr) fez uma cara tão boa, na hora que viu, vc tinha que ver, pq tá muito linda essa foto, muito legal amiga!! ele parecia tão alegre , simpático…
    bjsssss!!!

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  7. Tati

    e vc qd era criança… coisa mais fofaaaaa!!! sorriso lindo como sempre!!! e sandália chique demais!!! rsrsrsr ameiiii!!!

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  8. Nina

    amigaaaa! q lindo podemos externar nosso amor pelos nossos pais amados!!! fico feliz por ter te inspirado. parabéns a vc e jr pela relação de amor, confiança e respeito q estão construindo, vcs merecem tudo de lindo nessa vida! e quanto à sua idéia, amei! e vou te dizer q o povo aqui precisa viu gata, fico impressionada com algumas bocas q vejo por aí…. a senhora iria fazer um sucesso total por aqui!! te amo amigaaaaaaaaaaa!!!!!!!! saudades demais! eu e diego adoramos saber q vcs dois pensam em vir ficar conosco por 3 meses – nossa, vai ser tudo de bom! tb amei falar com vc, amiga linda e poderosa! muitos beijos pra vc e jr nessa data tão especial! 9 é um número especial, fechamento de um ciclo para início de outro q pelo q tudo indica será de bastante realizações e crescimento para vcs dois!

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  9. Nina

    amei saber q vc me acha parecida com meu paizinho lindo! e ele era mesmo muito simpático e querido por todos que o conheceram. era um artista, amava cantar, até gravou um disco q minha irmã vai copiar em CD e quero escolher uma música pra postar aqui 🙂 beijos e obrigada pelo amor e carinho de sempre!

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  10. Nina

    brigada amiga, vc é tão amorosa! e a sandália chiquérrimaaaaa rsrs, eu já era 3 né amiga!!!!!

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  11. Tati

    3 totallllll!!!!!!!!!!! kkkkkkkkkkk

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  12. jose carlos trigo

    Queridos Diego e Karina:

    Quero, mais uma vez, quero externar a minha alegria de ter vocês como filhos, desejo que tudo saia conforme o planejado e aproveitem o que puderam, por aqui, para varias, as notícias de TV não são nada boas, ficamos perplexos com as coisas que aconteçem no Brasil e vocês têm o privilégio de não participarem, como ouvintes, dessas aberrações.

    Um abraço e 300 beijos

    do pai JCTrigo

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  13. Nina

    ei sogrinho! e eu quero externar a minha alegria em tê-lo como pai do meu maridão e meu sogrinho. te admiro muito! 1957 beijos pra vc! saudades………………………………..

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