Hora de colocar em prática #2

Terminei meu último estágio do curso. Foram mais 4 semanas, desta vez na 2a série da mesma escola em que fiz o meu primeiro estágio. Foi encantador. E os encantos começaram já desde o primeiro dia. Nessa escola, toda segunda-feira de manhã, as turmas da 1a à 6a série reúnem-se para uma sessão de contação de histórias. Cada semana é a vez de um professor e eles revezam-se até voltar ao primeiro. Assim que entrei na sala acompanhando a 2a série e fui vista pelos alunos da 3a série, a qual eu havia acompanhado no estágio anterior, o silêncio reverenciador que as crianças são amorosa e firmemente conduzidas a manter, foi quebrado por meu nome ecoando no ar e vivazes e alegres acenos de mãozinhas lindas. Foi a glória pra mim! A professora quando me viu também abriu um sorriso lindo e acolhedor. Depois da sessão, ela veio me abraçar toda feliz, e ao meu cumprimento seguiu-se um “Ah, Nina, que saudade de ouvir a sua voz!” E ali naquele momento eu percebi ainda mais a importância da qualidade da energia que emanamos por aí. Com aquelas crianças e professora, eu emanei e recebi energia de amor e luz, e o nosso encontro será eterno. Mantive muito contato com elas durante esse último estágio, nos intervalos das aulas. Percebi como elas haviam crescido em apenas 3 meses. Em muitos momentos senti vontade de estar novamente com elas em sala de aula, principalmente quando elas vinham ao meu encontro com perguntas como “Nina, você pode ficar conosco pelo menos por um dia? Você prefere a nossa turma ou a 2a série? Ano que vem você pode ficar na nossa turma de novo?” ou ainda “Nina, você é a melhor professora trainee que a gente já teve.” Ah, sem palavras pra explicar a felicidade que tudo isso me trouxe, a confirmação de um caminho escolhido.

Mas o momento era de concentrar-se nas fofuras que eram as crianças da 2a série. Diferentemente das crianças da 3a série, que estão começando a deixar pra trás a plena consciência do mundo espiritual e a perceber a sua individualidade, para as crianças da 2a série o mundo exterior ainda é uma extensão dos seu próprios seres, elas ainda não distinguem-se claramente como indivíduos. São muito afetadas  pela beleza da natureza e os laços com o mundo espiritual ainda estão (ou deveriam estar) presentes. São ainda muito espontâneas, alegres e curiosas. Mantive isso em mente pra tentar descobrir o que faria de especial para elas. Algo que fosse além das aulas de matemática e desenho de formas que eu lecionei com sucesso, apesar da apreensão que ainda senti por estar sendo observada pelo professor (um amor de pessoa e muito experiente) e pelo fato de estar lecionando em outra língua.

(Preciso aqui de um parêntese pra abrir o peito num desabafo: tem dias que quero mandar a língua inglesa pra PQP!  Amigos de fé, irmãos camaradas, isso não está sendo fácil não. Eu tenho uma boa base de inglês, é óbvio que melhorei muito nesses quases 2 anos de Austrália, mas tem horas que tenho MUITA preguiça. E nem é nada contra a língua em si, eu até gosto do inglês (mas AMO o português). A questão aqui em pauta é não poder fluir. Eu sou muito comunicativa, curiosa, adoro me expressar, conversar, conhecer gente nova, e tenho me percebido em vários momentos com literal preguiça de entabular uma conversa porque vai faltar o adjetivo, o verbo, o substantivo, a preposição, a forma, a construção, a gíria, a naturalidade que a língua nativa possibilita. E quando preciso escrever então? Afeeeeeeeeeeeeeeee!!!!!!!!   Fico injuriadíssima!  EU AMO ESCREVER, mas como escrever com o mesmo amor, poesia e esmero se te faltam recursos gramaticais, vocábulos, e paciência pra ficar consultando o Google Translate de 4 em 4 segundos?  Tem sido um verdadeiro desafio, pra dizer o mínimo. Eu decidi que, se ficarmos aqui na Austrália, vou estudar inglês que nem gente grande. E aí talvez entre a minha lua em escorpião (tô falando asneira, amigos astrólogos?) que torna difícil fazer as coisas superficialmente, pela metade. Se é pra fazer, preciso entrar com tudo, intensamente, e fazer bem feito. E fluir. Quando eu e Diego assistimos o filme “Sem Limites”, fiquei com inveja do protagonista que toma a droga pra aumentar a capacidade de funcionamento do cérebro. Juro que pensei que caso encontrasse alguém vendendo a tal da droga, ficaria tentadíssima a tomar rsrs… Devaneios à parte, quero mesmo melhorar muito meu inglês, e tenho certeza que vou amar fazer isso.)

Well (!), desabafo libertado, vamos voltar aos anjinhos. Onde parei mesmo? Sim, em busca de algo especial. Pois bem, num certo dia, acho que já na penúltima semana do estágio, lembrei-me que a Hannah havia me dado uma porção de pedras semi preciosas, cada uma mais linda que a outra. Decidi dá-las de presente para as crianças a partir de uma história envolvendo natureza, animais e.. pedrinhas! A história que escrevi e traduzo agora para o blog foi a seguinte (nem preciso dizer o trabalho que deu pra escrever em inglês, e não gostei do resultado final):

“Era uma vez uma menina que amava colecionar pedras. Tudo começou num lindo dia de sol, quando ela foi brincar no bosque. Ela estava ajoelhada à beira de um córrego cristalino brincando com os peixes, quando um raio de sol atingiu a água e uma linda pedra preciosa brilhou ante seus olhos. Era a pedra mais linda que ela havia visto e ela decidiu levá-la pra casa. Todo dia ela polia e brincava com a pedra. A menina contou seus segredos pra pedra e sabia que ela a entendia. Elas tornaram-se grandes amigas.

As outras pedras do bosque logo ficaram sabendo o quão cuidadosa e amorosa era a menina, e dentro delas cresceu um desejo de também serem cuidadas e amadas por ela. De repente, a menina começou a achar muitas outras pedras preciosas. Algumas pulavam de dentro d’agua para as mãos dela, outras rolavam pela grama até a sua cesta, e outras eram entregues a ela pelos animais que viviam naquele bosque. A menina estava mais feliz que nunca, pois ela nunca havia visto tantas cores, formas e tamanhos tão diferentes. Cada uma das pedras era linda e radiante, e a menina cuidava de todas elas com o mesmo cuidado e amor.

No entanto, em um outro lindo dia de sol, quando a menina chegou em casa do seu passeio diário ao bosque, trazendo mais um punhado de pedras preciosas, ela encontrou sua cama completamente coberta de pedras. ‘Como isso foi acontecer? Como eu vou dormir?’, a menina perguntou-se. Ela não sabia o que fazer. Seu quarto estava completamente coberto de lindas e brilhantes pedras preciosas. Nesse instante, uma linda coruja branca veio voando lá do alto do céu e pousou na janela do quarto dela. Aquela era uma coruja muito sábia. Ela disse pra menina que ela não seria capaz de polir todas aquelas pedras,  e elas ficariam empoeiradas. E que também ela não seria capaz de brincar com todas elas, e as pedras ficariam tristes. ‘Portanto, minha querida menina’, disse a sábia coruja, ‘ou você devolve as pedras à natureza, onde o vento, a chuva e as águas do córrego estarão constantemente polindo-as, e onde os animais sempre brincarão com elas, ou você as dá de presente a outras crianças, e assim, cada pedra terá uma criança para brincar com ela.’ A menina amava tanto brincar com as pedras, que ela gostou muito da idéia de fazer outras crianças felizes. E desde então, é isso o que ela tem feito: presenteado com uma das suas pedras preciosas toda criança que ela encontra. E ela adora ver o sorriso nos rostos delas quando elas contam o seu primeiro segredo para as pedras.”

Com a história criada e aprovada pelo professor, era hora de preparar as pedrinhas. Costurei pequeninos saquinhos pra cada uma delas, coloquei os nomes e levei um tempo especial pensando em cada uma das crianças e deixando meu coração escolher qual pedra dar pra quem. Era uma forma de dar um pouquinho de mim pra cada um daqueles seres tão lindos.

Contei a história no último dia do estágio. Foi lindo! Levei as pedrinhas dentro de uma cestinha, cobri com uma seda bem bonita, e ao final da história chamei um por um, entreguei os saquinhos, e disse a eles que esperassem até que todos tivessem sido chamados pra só então abri-los. A menina em mim queria ver os sorrisos nos rostos deles quando olhassem para as novas amiguinhas. Elas ficaram muito felizes e agradecidas. Algumas passaram o resto do dia me agradecendo. Tive certeza da minha história ter atingido o fértil reino imaginativo daquelas crianças, quando após a atividade, algumas me abordaram pra fazer perguntas como “Nina, o que pedra come? Será que ela vai gostar se eu colher flores e botar no saquinho pra ela dormir em cima? Você é a menina da história? Você achou mesmo todas essas pedras?” Fiquei muito feliz. Alguns entre eles ficaram muito mais grudados comigo após a história, o que mais uma vez me confirmou a importância da demonstração de amor e afeto. Nesse mesmo dia, fizemos uma caminhada ao bosque perto da escola, e as crianças disputaram quem ía segurar minha mão. Tivemos que fazer “fila pra segurar a  mão da Nina!” Ah, gente, babei de encanto por aqueles pequeninos. Nós íamos caminhando e eles me mostrando qual flores estavam colhendo pra fazer cama pras pedrinhas, coisa mais linda! Após o passeio, o professor abriu espaço pra eles fazerem desenhos de despedida pra mim – verdadeiros tesouros que guardarei pra sempre. E ao fim da aula, na hora de cantar a música de despedida do dia, o professor disse a eles pra cantarem virados pra mim, pois eu sempre ficava no fundo da sala. Foi MUITO emocionante. Foi fechar o meu estágio com pó mágico de fada alegre da alma exuberante do arco-íris do sol dourado flutuante. Não entendeu? Pergunte à criança que mora dentro de você, ela certamente sabe.

A linda sala de aula, com os trabalhos artísticos das crianças sempre expostos

Bonecos inteiramente produzidos por elas. Nas escolas Waldorf, as crianças aprendem a tricotar na 1a série. As aulas de artesanato acontecem 2 vezes por semana. Elas produzem muita arte.
Tricotei essa boneca durante as aulas de artesanato deles e dei de presente pro professor. Ele a colocou na sala junto com as outras, e as crianças decidiram que o nome dela é Nina!
O processo de embalar as pedrinhas
E foi assim que elas ficaram!
Me deu muito prazer criar esses mimos pra elas!
Esse presente eu ganhei de um dos meninos mais tímidos da sala. Ele conversou comigo apenas duas vezes, uma pra me dizer que o irmão dele ama o futebol brasileiro e a segunda pra me dar esse singelo presente. Amei a delicadeza do coração pregado na concha. Sempre que olho pra ela me emociono, pois lembro da alma doce desse menino tão quieto. 
Tão criativo!
Percebam a riqueza desse cartão. E o detalhe do arco-íris em 3D?
Lindo desenho. Fiquei impressionada com o senso de perspectiva dessa criança de apenas 7 anos.
Olha eu bem moreninha 🙂 Fofo!

“Querida Nina, eu te amo, vou sentir saudades, mas tenho que deixar você ir.” Quanto amor, não! Meu coração chega a ficar espremidinho… também vou sentir muitas saudades de todos eles..


4 Comments

  1. Rita Lopes

    lindo, fields! aprendendo com vc a criar o miguel.

    Reply

    • Nina

      ah, que delícia isso, amiga! beijos muitos pra vcs!

      Reply

  2. Gi

    que coisa mais linda! parabéns! adoro ler os depoimentos do curso, esses são especiais e inspiradores!

    Reply

    • Nina

      brigada gi! beijoquitas

      Reply

Leave a Reply to Gi Cancel reply

Your email address will never be published or shared and required fields are marked with an asterisk (*).