Indefinidamente

“O portador deste visto pode permanecer na Austrália indefinidamente.” Foi essa última palavra que trouxe lágrimas de emoção aos meus olhos no dia em que fui ao Departamento de Imigração afixar as etiquetas do visto permanente nos nossos passaportes. Lágrimas que remontam a 3 anos atrás, quando o sonho de imigrar encontrou morada em nossos corações.

Assim que eu e o marido mais lindo do mundo decidimos vir pra Austrália, já começamos a nos informar sobre os caminhos que levariam ao visto permanente. A idéia inicial era dar entrada ao processo no Brasil, e somente vir pra cá quando obtivéssemos o visto. Mas as sincronicidades já estavam de prontidão (sempre estão quando as percebemos) e cruzou nosso caminho um agente de imigração que sugeriu que viéssemos com o visto de estudante (através do curso de Pedagogia Waldorf que eu fiz). Dessa forma, teríamos 2 anos pra conhecer o país e decidir se era esse mesmo o caminho que queríamos seguir. “Além do mais”, completou ele, “é infinitamente mais barato obter o visto de estudante do que o visto permanente.” É, ele tinha um bom argumento. Vai que a gente gastasse aquela baba toda de dinheiro e após chegarmos aqui descobríssemos que vegemite, longuíssimas e friiiiiiiiias noites de inverno, o sotaque australiano, dirigir na mão contrária, magpies que te atacam assustadoramente se você passar embaixo da árvore onde está seu ninho, crocodilos gigantes e letais água-vivas, são todos esquisitos demais e decidíssemos voltar correndo pro Brasil? Isso pra não mencionar os tubarões, cobras e aranhas venenosas, e moscas do tamanho do meu nariz (lembrem-se que meu nariz não é pequeno). A essa non grata lista podemos acrescentar o fato de que o clima de Melbourne pode te presentear com as quatro estações em um mesmíssimo dia, o que pode ser bem desagradável para os incautos.

Mas a verdade é que bem dentrinho dos nossos corações, já sentíamos fortemente o chamado dessa terra linda e espiritualmente forte. Ainda não sabíamos que nos apaixonaríamos irremediávelmente pelo relaxed Australian way of life, pelas lindas paisagens, majestosas praias, pela belíssima fauna e flora, pelos charmosos cafés, pela tranquilidade e segurança do dia-a-dia, pela estabilidade da economia, pela ausência de repetidos escândalos de corrupção que resultam impunes, pelas estradas impecávelmente capeadas, pela qualidade do pontual transporte público, e por aí vai – a lista de pontos positivos é extensa. Não sabíamos também que faríamos amigos pra toda uma vida. E mesmo sem saber de nada disso, já trouxemos do Brasil toda a documentação necessária pro visto: cartas de empregadores, documentos atestando a nossa relação de união estável, diplomas, etc. Já sabíamos também que aplicaríamos através do Diego, cuja profissão está em alta demanda, e que eu entraria como dependente no visto dele. E com 2 meses de Austrália já fomos mexer nossos pauzinhos: consultamos uma advogada de imigração super foderosa que cobra 500 dólares por hora (!). Quando ligamos pra marcar um horário, perguntamos se ela podia nos atender somente por meia hora. Ela concordou e, muito simpática e super eficiente, nos encheu de informações preciosas naqueles muito bem pagos trinta minutos. Saímos de lá com uma lista de providências a tomar. O próximo passo seria Diego fazer o IELTS, um teste de inglês suuuuuper chato e que eu também tive que fazer para me matricular no curso. Ele estudou e obteve resultado suficiente pra aplicarmos via patrocinador mas não via independente. Como havíamos acabado de chegar aqui, àquela altura da jornada ainda não havia empresa querendo patrociná-lo. Logo, ele teria que fazer novamente o IELTS, o que significaria mais tempo de estudo, mais dinheiro, mais chatice. Resolvemos então esperar. Não havia pressa, o visto de estudante somente expiraria em 2 anos.

No entanto, não houve necessidade do Diego repetir o teste de inglês. O Universo é mesmo muito perfeito, e após 2 anos de Austrália e uma malfadada aplicação pro visto, uma sucessão de belas sincronicidades nos fez fechar 2011 com 5 empresas querendo patrocinar o marido mais lindo do mundo. Estão aqui os videos que fizemos contando tudinho.

Depois do insucesso da primeira aplicação, causado pelo fechamento da empresa patrocinadora (os dois donos brigaram), vários potenciais patrocinadores começaram a inusitadamente despencar do céu. Justiça seja feita, não foi nada inusitado. A verdade é que o Diego é muito foda em tudo o que ele faz, e quando os clientes pros quais ele vinha trabalhando como autônomo souberam que o processo tinha dado errado, quiseram patrociná-lo e tê-lo trabalhando com eles. Mas o fato é que eram empresas de pequeno porte novamente, e não queríamos correr o risco de outro malogro causado por pitis emocionais de executivos desequilibrados. Tínhamos apenas 2 meses e meio de visto, mas decidimos que era melhor viajar pro reveillon, relaxar, e tomar uma decisão quando voltássemos. Como sempre, confiamos no Universo, sabendo que o que tivesse que ser, seria.

O reveillon foi maravilhoso. Passamos 5 dias acampados num festival holístico alternativo chamado Confest. Fizemos um video lá no dia 1 de janeiro. Conhecemos pessoas lindas, tomamos vários banhos pelados no rio, banho de lama, fizemos sauna à lenha, fomos visitados por fadas disfarçadas de joaninhas douradas, tivemos vários insights espirituais e dançamos todas as noites na silent disco. Num certo dia, Diego recebeu um presente inesperado: uma leitura free de tarô em que os arcanos afirmavam que ía dar tudo certo. Aquela sincronicidade, manifestada através da taróloga australiana que surgiu do nada e foi com a cara do Diego e ainda quis botar as cartas de graça, foi uma bela forma de fechar nossa viagem. É como eu sempre digo, nossos anjinhos espirituais nos mimam demais. E quando eu digo nossos, não estou me referindo a mim e Diego apenas, mas a todos nós humanos. É apenas uma questão de começar a perceber, reverenciar, agradecer e celebrar. Sempre.

Assim que voltamos pra Melbourne, Diego empolgado anunciou “essa semana eu decido com qual empresa eu vou, amor!” E aí veio outra bela sincronicidade. Ele recebeu uma ligação de um headhunter convidando-o pra uma entrevista de emprego. Já estava sendo tão difícil decidir entre 5 potenciais patrocinadores, que ele me contou sobre a ligação já fechando com “mas eu tô pensando em nem ir, vai ser mais uma empresa pra bagunçar minha cabeça.” Mas nessa hora meu anjinho me cutucou e o que saiu da minha boca foi “ah, amor, vai sim, não custa nada, vai só ouvir o que o cara tem pra oferecer.” Cutting a long story short, a empresa pra qual o Diego muito feliz trabalha hoje e através da qual conseguimos o nosso visto permanente, surgiu dessa entrevista. Como não amar as sincronicidades, se eu e o marido mais lindo do mundo as vemos acontecer diariamente?!!! De todos os potenciais patrocinadores, essa é sem dúvida alguma a oportunidade mais adequada às aspirações (atuais) do Diego. Sabe algo talhado especialmente pra você em todos os mínimos detalhes? Pois é. Ele merece demais e já andava radiante da vida antes mesmo do visto sair. Mas desde o dia 12 de setembro de 2012, a alegria transformou-se em júbilo exultante, em êxtase, em celebração e em gratidão ao Universo! Quando o marido mais lindo do mundo me ligou pra me contar que o visto tinha saído, eu comecei a gritar e rir ao mesmo tempo. Agradeci muuuuito a ele e o parabenizei incansávelmente, pois se não fosse por ele, não teríamos conseguido essa vitória. Se esse sonho hoje é real, devemos a ele, Diego Reis Trigo. Ser humano corajoso, esse meu marido. Chegou aqui na Austrália munido de um inglês básico, desse que é ensinado na escola junto com as outras matérias. Se eu, que tinha feito 8 anos de inglês, penei com o sotaque dos australianos, imaginem ele. Mas o Diego não é apenas corajoso, ele é inteligentíssimo, tem uma mente ágil, é um estrategista nato. Vocês acham que ele deixava de conversar com as pessoas por vergonha de errar? Never! Como eu disse, ele é corajoso e perspicaz: jogava-se sem pensar em todas as conversas. O nível de inglês dele melhorou vertiginosamente e em pouquíssimo tempo. Hoje é ele quem me ensina formas mais cool de me expressar.  Eu o admiro demais, e vê-lo enfim sendo devidamente reconhecido pelos tantos potenciais que eu vislumbrei desde sempre, me deixa nas nuvens. O brilho de felicidade e orgulho nos olhos dele são iguarias pra minha alma apaixonada.

Bem, pra terminar essa longa prosa, voltemos ao início. Segundo meu fiel companheiro  Aurélio, indefinido é algo que não tem limites determinados. E a emoção está justamente aí, na ausência da necessidade de determinar por quanto tempo ficaremos por aqui. Somos agora livres para ir e vir, conforme o coração ditar. Sem medo de ser repetitiva, afinal, um homem corajoso somente se apaixonaria por uma mulher também corajosa, novamente afirmo: vivemos conforme mandam nossos corações. Nesse momento, estamos totalmente in love com o país dos cangurus, e como muito sábiamente afirmou meu conterrâneo Samuel Rosa na música “Nômade”, a minha casa está onde está o meu coração.

As sincronicidades continuam fluindo de uma forma graciosa, gentilmente nos convidando a aqui gozar o viver. Vegemite? Não gosto mesmo, mas em compensação sou apaixonada pelo Tim tam. Cobras, aranhas, tubarões, crocodilos e os outros bichos esquisitos estão bem longe de nós. É verdade que continuo assustada com os magpies, mas eles são (quase) inofensivos. Amo Melbourne e aprendi a amar seu clima imprevisível. E pras longas e frias noites de inverno, tenho o melhor cobertor de todas as galáxias: o calor do amor do meu amor. Vale ou não vale a pena seguir o coração?


4 Comments

  1. Sandra Rosa

    Tudo por um Tim Tam de dark chocolate que é gostoso assim como compartilhar com vocês este momento! ImPeRdíel DeLcIosO rAdIaNtE

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    • Nina

      viva o tim tam! viva minha irmã de alma sandra rosa! viva a vida vivida com amor!!!!
      love u, sis!

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  2. Gi

    sensacional kaká! parabéns para vocês!!! às vezes demoro a ler suas publicações porque gosto de lê-las com tempo… mil vivas para vocês!!

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    • Nina

      brigadim gi querida! beijocas mil <3

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