África do Sul: mais alma e menos medo

 

Visitamos a Cidade do Cabo na África do Sul em maio de 2016. A razão inicial da viagem não foi turística mas sim nossa última tentativa de engravidar de forma não natural. Após quase cinco anos tentando engravidar naturalmente e duas fracassadas inseminações artificiais, decidimos seguir o conselho do nosso médico e tentar conseguir uma doadora de óvulos.

Aqui na Austrália não existe doação anônima de óvulos: você tem que conhecer alguma mulher que esteja disposta a te acompanhar nessa difícil jornada. Chegamos até a cogitar essa possibilidade, mas achamos que ficaríamos mais confortáveis com o anonimato da mulher-anjo que nos doaria algo tão precioso e inestimável.

Fiz várias pesquisas e entre várias (caras) opções de clínicas na Europa – com exceção da Grécia, cujo preço era mais acessível, acabei descobrindo uma conceituada clínica na Cidade do Cabo, cujo preço era mais razoável. Li vários depoimentos encorajadores em um grupo do Facebook de casais que tinham conseguido engravidar através dessa clínica, e decidimos tentar. O nome da clínica é Cape Fertility Clinic e nossa médica foi a Dra.Matebese. Fomos muito bem assessorados durante todo o processo de 4 meses que incluiu: análise de perfis super detalhados de doadoras anônimas de óvulos; vários exames médicos que eu e Diego tivemos que fazer; as injeções de hormônios que o marido mais lindo do mundo aplicou em mim antes, durante e depois da inseminação (ele é tão calmo, um super enfermeiro!); a fertilização dos óvulos da doadora com o esperma do Diego; e, por fim, a inseminação de dois embriões.

Ficamos dez dias na Cidade do Cabo curtindo sua estonteante beleza e sonhando com um bebezinho crescendo no calorzinho do meu útero. Dois dias após a inseminação voamos de volta pra Sydney, e alguns dias depois veio o momento mais feliz de todos esses anos tentando engravidar: o exame de sangue confirmava que eu estava, enfim, grávida! Ah mas foi alegria demais, tão imensa que não consigo exprimir em palavras.  E um dia antes desse primeiro exame de sangue eu tive um sonho muito real, cujo significado apenas entendi  alguns dias depois.

No sonho eu entro no meu quarto e ouço um barulho no banheiro. Eu estou sozinha em casa e caminho em direção ao banheiro apreensiva, intuitivamente sabendo que aquele barulho não era desse plano terreno. A porta do banheiro está aberta e  vejo uma menininha mulatinha de cerca de um aninho, toda vestidinha de branco, olhando pra mim com olhos muito vivos. Ao lado dela uma mulher muito bonita, vestida de enfermeira; ela olha pra mim e sorri um sorriso lindo. Apesar de toda a pureza e acolhimento da situação, eu sinto medo daquela interação extra-dimensional e pergunto o que elas estão fazendo ali. A enfermeira pega a menininha no colo, sorri novamente e responde que elas estão ali pra conectarem-se comigo. Assim que ela termina de responder, percebo que atrás dela há várias outras entidades de luz, todas vestidas de branco. Ainda assim continuo amedrontada, as palavras saem trêmulas da minha boca. Ela pergunta porque eu estou assim; digo que estou com medo e pergunto se eles são do “bem”. Ela calmamente respondeu que sim, que eles são do bem e não há nada a temer. Eu então saio do banheiro e a experiência termina.

A minha primeira interpretação do sonho foi que havia ajuda do mundo espiritual pra que a inseminação desse certo. Logo, quando recebi o resultado confirmando a gravidez, agradeci às entidades presentes naquela experiência, à alma da menininha e à doadora-anjo, certa de que nosso tão acalentado sonho se concretizaria. Mas o significado real do sonho era outro.

O segundo exame de sangue que fiz trouxe um choque que me derrubou: eu já não estava grávida, havia tido um aborto precoce. Chorei como nunca Diego me viu chorar, pois a tristeza que senti eu nunca havia sentido. A desmedida dor durou 3 dias, durante os quais chorei muito e tentei aceitar que ali terminava um ciclo. Em meio à dor, eu sábiamente consegui agradecer à Essência Divina: a crença de que nada acontece por acaso continuava viva em mim, mesmo que eu não entendesse o porquê e a despeito do coração dilacerado. No quarto dia acordei bem, muito bem, tão bem que eu nem acreditei. A dor mais profunda que já senti na vida lavou os cantinhos mais escuros da psique, limpou os medos que ainda se escondiam ali e que me impediram de conectar com essa alminha linda, algo que o sonho trouxe de forma tão clara. E quando emergi desse mergulho de dor exausta, antiga, pela primeira vez na vida eu consegui fazer as pazes com a possibilidade de não ser mãe, algo inconcebível até então. Meu coração estava verdadeiramente leve e eu estava grata por ter tido a oportunidade de, através da dor, conseguir ser mais alma e menos medo. Fiz um ritual pra agradecer a alma da menininha que esteve comigo por tão pouco tempo mas que me trouxe tamanha libertação.

Naquele despertar eu conscientemente escolhi viver alegre todos os dias da minha vida – todos, sem exceção, e independente de qualquer coisa. Decidi ser grata a todas as bençãos presentes na minha vida – elas são tantas e não devem ser diminuídas ou menosprezadas simplesmente porque não sou mãe, e nem por qualquer outro motivo. Apaixonei-me ainda mais pelo marido mais lindo do mundo, esse homem íntegro, companheiro, paciente e dono de uma nobreza inata. Ele me ama e escolhe estar ao meu lado todos os dias, mesmo sem filhos – isso é incrível  e me emociona sempre.

A Vida tornou-se mais bela que nunca, um peso enorme foi tirado de dentro do meu peito. Ao invés de viver alegre esperando algo, escolhi apenas viver alegre. E grata, sempre. À  Essência Divina deixo claro que aberta estou, e sempre estarei, pra receber uma cria – seja minha ou de outrém. Mas não mais me encarrego dos meios, deixo os oportunos milagres a cargo de quem os produz. E creio piamente neles.

Clique na primeira foto pra ir pra galeria e aproveite! A Cidade do Cabo é simplesmente estonteante.

 


2 Comments

  1. Bárbara Ávila

    Todo o meu amor pra vocês <3 Você me inspira tanto com os seus textos, Ninna. Bom demais vc estar de volta aqui. Admiro muito a sua força e sabedoria. Beijo enorme pra vcs.

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    • Karina

      Obrigada, amiga querida, suas palavras sempre amorosas! Também estou feliz em voltar a escrever, só não sei ainda com qual frequência rsrs, mas vamos que vamos.. eu gosto muito de escrever. Beijos com amor e saudades <3

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