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Irmão de alma

Ricky Ozimo é uma dessas pessoas ao lado de quem nos sentimos à vontade desde o primeiro oi. Mágico renomado, ganhador de vários prêmios, já tendo inclusive se apresentado em Hollywood, o cara é dono de um coração imenso, é doce e cativante. Ele fez muito sucesso por vários anos, ganhou muito dinheiro, mas é outra pessoa que também decidiu mudar de caminho e seguir o convite da sua alma. Abandonou a mágica (ainda não sabe se temporária ou definitivamente… de vez em quando me deixa maravilhada com algumas mágicas singelas e inesperadas), hoje mora em uma linda casa (que ele próprio construiu) em St.Andrews, dedica-se à música (toca gaita e sax) e à carpintaria, artes através das quais ele também mostra seu talento. Ele é amigo da dona do cottage em que moramos e o conhecemos durante um show da banda dele, Black Cat Bone, no St.Andrews Pub (http://www.standrewspub.com/). Ele e Diego identificaram-se desde o primeiro momento. Ambos são virginianos e agora se denominam “brothers”. Ele tem um sax tenor marca Selmer Mark VI com boquilha David Guardala, exatamente o sonho de consumo do Diego, algo em torno de AUD 10.000. Quando fomos conhecer a casa dele, Diego matou a vontade de tocar essa peça de arte musical – parecia criança, foi bonito de ver J E o Ricky acabou comprando um sax soprano inspirado no do Diego, que ele tocou e gostou. Diego vai tocar com a banda dele no próximo show que eles farão no St.Andrews Pub – vou gravar e mostro para vocês! Abaixo dois videos do Ricky fazendo mágica e música:

http://www.youtube.com/watch#!v=3v9NaTm81oQ&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=9bZiNLOdhys


Melbourne City

A cidade de Melbourne, digamos, o coração da cidade, abrange uma área de cerca de 36 quilômetros quadrados e tem uma população de cerca de 80.000 habitantes. É onde está localizado o centro comercial, financeiro e político da cidade, e é onde encontramos o maior número de opções de lazer e cultura. É lindíssima, uma mescla de arquitetura antiga (muitos dos belos edifícios foram construídos a partir de 1850) e moderna, lindos parques e várias pontes sobre o rio Yarra que banha a cidade. A cidade é também banhada pelas tranquilas águas da Baía de Port Phillip.  Morar no coração de Melbourne é caro e confesso que não sei se vantajoso, pois é uma cidade agitada. Muitas pessoas moram nos subúrbios mesmo trabalhando na cidade, pois pode-se levar uma vida mais tranquila e, como o transporte público funciona muito bem, deixam os carros nas diversas estações de trem espalhadas pela Grande Melbourne e vão pra cidade de trem. Eu e Diego estamos morando em Croydon,  um dos vários simpáticos subúrbios que compõem a Grande Melbourne e que fica a 30 minutos da cidade. É um bairro delicioso, tranquilo, muito arborizado, e bem perto da minha escola.

Desde que chegamos já fomos até a cidade no Dia da Austrália (26 de janeiro), para assistir ao Grand Prix de Fórmula 1 no último dia  28 de março( Diego pirou! Tirou váaarias fotos!),  um outro dia apenas para passear pela cidade e Diego foi para reuniões de trabalho com os clientes australianos que ele já tem.

Abaixo algumas fotos e videos dos dias em que fomos à cidade!

 

Ganhamos essas duas entradas da Vodafone, patrocinadora da Formula 1 e de quem compramos um plano de internet 3G e nossos planos pós-pagos de celular.

Formula 1

 

Kings Domain

 

Desfile de bicicletas antigas no Dia da Austrália

 

Sydney Bowl – excelente local para shows ao ar livre!

 

Atravessando uma das pontes sobre o rio Yarra.

 

Fazendo palhaçada na estação de trem.

 

Centro comercial e rio Yarra.

 


Primeira jam session na Austrália

 

Sandra Paulka é uma australiana incrível com quem eu me correspondi do Brasil para me matricular no curso, e que me ajudou demais. Ela trabalhou por 17 anos na escola e decidiu mudar de rumos agora no início de 2010: vai dedicar-se à pintura (o que ela faz maravilhosamente bem) e ao violoncelo. Assim que chegamos aqui em Melbourne fomos até a escola conhecê-la e foi quando recebi a notícia, a qual me deixou de antemão saudosa mas também feliz em ver pessoas, assim como eu, com coragem para mudar o caminho da vida em momentos em que nossa alma chama. Nossa “convivência eletrônica” foi bastante intensa durante os momentos pré-viagem. Eu tive dificuldades junto à Embaixada da Austrália, correndo o risco de não conseguir o visto, e a Sandra foi uma peça fundamental no resultado positivo de toda a história. Ela torcia por mim e eu já gostava da energia dela desde o início.  Assim que foi com um grande prazer que recebemos o convite dela para uma noite de música e pizza no forno a lenha da casa dela. Foi uma noite deliciosa. A casa onde ela mora com o marido Peter é linda e muito aconchegante. A casa foi toda desenhada e construída pelo marido (inclusive o forno a lenha), outro australiano muito simpático com quem eu já havia conversado ao telefone do Brasil, em um momento de tensão por uma documentação da escola que não chegava nunca. Éramos apenas sete convidados: eu, Diego, a Vivian (nossa amiga pauliistana que conhecemos aqui), a Gail (uma amiga da Sandra), o Phil, Tiana (natural da Sérvia) e Claire, estes três últimos cursando o segundo ano do curso que estou fazendo. Tomamos vinhos deliciosos (aqui tem muitas vinícolas por perto, logo vinhos ótimos e baratos), montamos nossas próprias pizzas, batemos papos leves e nutridores, e Diego pôde matar sua vontade de tocar sax, pois o final da noite foi regado com música de qualidade produzida pelo  sax soprano do meu gatão, dois violões, percussão e flauta. Foi dessas noites em que voltamos para casa num estado de calmo êxtase (isso existe?), nutridos e flutuando, caso pudéssemos…

 

 


Meu curso e como me tornei Nina

Estou simplesmente encantada com o meu curso! Cada novo aprendizado confirma a minha radical mudança de profissão e me faz sonhar com o momento em que estarei em sala de aula ensinando as criancinhas, ajudando-as a se tornarem seres humanos mais inteiros e amorosos. Somos uma turma de 42 alunos, dentre os quais apenas 6 homens. A grande maioria são australianos, mas há também dois sul-africanos, uma inglesa, uma chinesa, uma coreana, uma indonesiana e eu. No primeiro bimestre minhas matérias teóricas foram Evolução da Consciência, Desenvolvimento da Imaginação, Fases de desenvolvimento, Ciência do saber e Ciência Espiritual, e as matérias artísticas/práticas foram Cerâmica (fiz peças que amei! abaixo fotos de duas delas), Pintura, Artesanato (estou fazendo um lagarto de feltro), Contação de Histórias (tivemos que contar Três Porquinhos, Rapunzel, Branca de Neve – delícia!), Teatro (as aulas são fantásticas!! No fim do ano vamos representar “Sonho de uma noite de verão” de Shakespeare!), Euritmia (http://sab.org.br/euritmia/), Desenho de formas, Coral, Festivais e Ginástica Bothmer, todas com origem na Antroposofia desenvolvida por Rudolf Steiner. A cada bimestre temos três semanas de férias, e assim será por 2 anos.

Essa é a “Love seed”, ou semente de amor, e eu simplesmente me apaixonei por ela! Ela veio surgindo, lentamente, a partir de uma simples esfera de cerâmica e quando vi, começaram a surgir corações em vários angulos. Pedi ao Diego para tirar várias fotos para tentar mostrar todos os corações 🙂

Essa é a Summer! Também veio surgindo lentamente…

Me apresentei na escola como Nina, e é assim que todos me chamam aqui – acho lindo esse apelido, e é uma homenagem ao meu lindo afilhadinho Rohy, de quem sinto muitas saudades. Quando ele estava aprendendo a falar não conseguia falar Karina e me chamava (e ainda me chama) de Nina. Estou adorando ser Nina!!! Te amo Rohy, muito e pra sempre 🙂 Eu, Diego e Teo estamos com muitas saudades de você!

Rohy no quarto de meditação :)

Esse é o Rohy! É um menino encantador, sensível, inteligente, sábio.

Eu e Rohy, meu afilhadinho lindo!

Eu e Rohy

Nós em Recife

Meus abraços ficaram famosos na escola. Desde o início das aulas eu sempre chegava de manhã e abraçava calorosamente todos que cruzavam meu caminho. Algumas pessoas entregavam-se aos meus abraços, outras mantinham uma certa barreira. Mas eu continuava abraçando a todos. Hoje, após 2 meses de convivência, as pessoas vêm até mim me pedir abraço quando eu porventura não as abracei, já citaram meus abraços em uma roda de expressão de “destaques” do curso, e me compararam à Amma (http://www.amma.org/), a indiana considerada a santa do abraço e que viaja pelo mundo dando abraços que curam e é reponsável por um maravilhoso trabalho humanitário. Estou bem longe de desempenhar o compassivo trabalho da Amma, mas fico muito feliz em saber que meus abraços trazem alegria, conforto, alívio e também são cheirosos – sim!! Minha Colônia Mauá é um sucesso total aqui (http://www.jet.com.br/perfumesmaua/)!

Já tive momentos de muita emoção durante o curso. A primeira coisa que fazemos diariamente é cantar. Aprendi canções lindíssimas e que me tocaram muito, me fazendo derramar lágrimas de felicidade, que realmente lavaram minha alma. Semana passada (30 de março) cantamos as músicas que ensaiamos no coral para um grupo de idosos. Foi indescritível a energia de amor que se derramou sobre o ambiente. Em alguns momentos tive dificuldade de cantar devido ao nó na minha garganta. Mas também eram lágrimas de pura felicidade e amor. Outro momento inesquecível aconteceu no dia 22 de março durante o horário de almoço. Nosso horário na escola é de 9 às 14:30 e, portanto, fazemos lanche da manhã (que eles chamam de Morning Tea) às 10:45 e almoçamos às 12:15. Nesse dia, após o almoço, eu estava conversando com o James e a Angela sobre várias coisas, basicamente curiosidades deles sobre a nossa vida no Brasil. Até que o James me perguntou se eu queria voltar para o Brasil após o curso. Eu respondi que tenho vontade de ficar aqui por alguns anos se eu e Diego tivermos sucesso no nosso plano de tirar o visto de residência permanente. Durante o tempo que ficar aqui quero ganhar experiência trabalhando com a Pedagogia Waldorf e quem sabe realizar o meu sonho quando voltar para o Brasil. Eles ficaram curiosíssimos em saber qual é o meu sonho. E eu contei que nada me deixaria mais feliz do que poder abrir uma escola em uma comunidade carente do Brasil, pois as escolas Waldorf são caras e, portanto, não acessíveis à população de baixa renda, mas que era um sonho difícil de realizar, pois conseguir ajuda do Governo Brasileiro é tarefa árdua. Assim que terminei de contar o meu sonho, os dois estavam me olhando boquiabertos, ambos me mostrando os braços arrepiados de emoção (“Look Nina, we’ve got goose bumps!”), e me dizendo que tinham certeza que eu vou conseguir realizar meu sonho! Havia uma energia poderosa no ar, talvez nossos anjos protetores, nossos Eus Superiores, ou o nome que quisermos dar, mas o fato é que todos ficamos emocionados, eu chorei (claro!), agradeci a eles pelo especial momento e nos abraçamos para “selar” a energia de realização! Foi lindo! James até prometeu que vai fazer uma apresentação de mímica para as criancinhas na minha futura escola! Se o meu sonho vai ou não tornar-se realidade, o futuro dirá, mas uma coisa é certa: havia ali uma nutridora energia de amor, que nos envolveu e tocou nossas almas e corações. Obrigada aos nossos amigos espirituais que coroaram esse momento! Jamais esquecerei.


Pássaros lindos e super diferentes

Nós estamos encantados com a diversidade de belos pássaros aqui na Austrália. Tanto em St.Andrews quanto aqui em Croydon onde estamos morando agora, eles estão sempre nos maravilhando com a beleza das suas cores e com seus belos e inusitados cantos – o Magpie tem um canto que soa digital, acreditem! Abaixo algumas fotos e videos para tentar ilustrar esse presente diário da Mãe Gaia.

 

Casal de magpies – parecia uma dança do acasalamento!

 

Magpie no campo de futebol da escola

 

Ele de novo, espalhando seu canto digital!

 

Essa é a Lorikeet. Profusão de cores!

 

Australian Birds

Cacatua de crista amarela – linda, imponente e um canto bem alto e característico.

Australian Birds

Não sei o nome dele, mas é lindo não?! Amo o topete 🙂

 

Essa é a Rosella vermelha e vem nos visitar toda tarde, ela adora os frutinhos da árvore que tem no nosso quintal. Diego tirou essas fotos do escritório dele.

 

Australian Birds

Esse é lindo, cinza e cor-de-rosa! E com certeza é da família do papagaio 🙂

Australian Birds

Cacatua de crista amarela em pleno vôo!

 



Esse video Diego fez na escola enquanto me esperava terminar a limpeza do jardim de infancia (ainda estavamos em St.Andrews)



No dia em que recebemos a resposta positiva da imobiliaria pro nosso novo cantinho 🙂


A saga do carro

Preciso voltar um pouco no tempo, para contar sobre a saga do carro. Assim que nos vimos em St.Andrews, isolados da civilização, sem transporte público e dependendo da dona da casa para qualquer coisa, até para fazer supermercado, pois nem um centro comercial existe na redondeza, resolvemos que tínhamos que comprar um carro. Estabelecemos um valor de 2.000 dólares para a aquisição, e com isso poderíamos comprar um bom carro, pois é muito barato aqui. O esquema era o seguinte: selecionávamos os carros que queríamos ver através de um site de anúncios na internet, alugávamos um carro por um preço bem baixo e rodávamos por toda Melbourne guiados pelo nosso fiel amigo GPS, o qual compramos assim que iniciamos a saga “comprar carro”. Para comprar carro aqui e transferi-lo para o seu nome é preciso exigir o RWC (Road Worthy Certificate) e o registro junto à Vicroads, autoridade competente. O registro vale por um ano, é afixado ao vidro dianteiro do carro, e equivale ao nosso DUT brasileiro, ou seja, não é necessário andar com documento do carro na carteira. O RWC  garante que o carro está em perfeitas condições mecânicas de rodar. Eu e Diego vimos vários carros, talvez uns 15, até nos decidirmos por um Magna da Mitsubishi ano 93. O carro estava sendo vendido por um mecânico chamado Toni, natural de Israel, e ainda necessitava de alguns ajustes para a expedição do RWC. O acordo foi que ele pagaria o aluguel do nosso carro (dada a nossa urgência) até o Magna ficar pronto, o que aconteceria em uma semana. Pensem num sujeito enrolado e tripliquem. Após essa primeira semana, ele ainda nem havia começado a fazer os consertos no carro, e pediu para adiantarmos alguma grana. Confiamos nele e demos 900 dólares. Ele pediu mais uma semana. Após o fim dessa segunda semana, tudo igual, ou seja, nada de carro pronto e ele pagando o aluguel do carro que estávamos usando. Diego então pediu a grana de volta. Ele ofereceu um carro emprestado e pediu mais 1000 dólares (!). Nós já havíamos gastado tanto tempo rodando atrás de carro, que estávamos com preguiça de começar tudo de novo. Resolvemos aceitar o trato: pegamos o carro dele e demos mais 1000 dólares, mas super inseguros. Essa novela durou mais duas semanas até recebermos uma ligação do Toni dizendo que já havia agendado o horário na Vicroads para finalmente transferir o carro para o nosso nome. Diego me ligou super feliz, eu peguei uma carona com uma colega da escola até a cidade e de lá peguei um trem para encontrar com o Diego na Vicroads, crente que voltaríamos para casa no nosso carro. Que nada. O Toni havia ligado para o Diego dizendo que o carro não havia passado na vistoria do RWC, ou seja, não seria possível fazer a transferência na Vicroads. Aí Diego perdeu a paciência de vez, pegou o dinheiro de volta (graças a Deus o Toni é enrolado mas é honesto!) e resolvemos encerrar a saga carro, já que onde estamos morando agora temos acesso fácil a trem e ônibus, os quais funcionam muito bem em Melbourne – super pontuais.

 


De Sydney até Melbourne

Fizemos a viagem em dois dias. No primeiro o plano era dormir em Merimbula, uma cidade litorânea ainda no estado new South Wales, cuja capital é Sydney. Dirigimos durante todo o dia passando por paisagens constituídas basicamente por verdes pastagens e alguns morros baixos. O Astro-rei brilhou durante todo o dia.


Um trecho muito lindo do percurso foi a travessia da Rain Forest. Subimos muito até chegar à região de altas árvores, neblina, e clima bem mais frio. Paramos num mirante localizado no ponto mais alto da estrada antes de começamos a descer novamente desta vez rumo ao litoral.

Mirante no ponto mais alto da estrada bem no coração da bela vegetação da Rain Forest.

Chegamos em Merimbula por volta de 7 e meia da noite, cansados mas felizes pois poderíamos tomar um belo banho, jantar tranquilamente e ter uma boa noite de sono antes de seguir viagem no dia seguinte. Pura ilusão. Simplesmente não nos demos conta de que a cidade estava lotada devido ao reveillon. Fomos a vários hotéis e pousadas, sem sucesso. Nos aconselharam a tentar hospedagem em Bega, uma cidadezinha que fica a 30 Km de Merimbula. Assim fizemos, esperançosos. Chegamos em Bega antes de 9. Paramos em todos os hotéis pelos quais passamos e nada de disponibilidade. Um senhor muito simpático nos desanimou completamente, disse que não acharíamos vaga em nenhuma das cidades litorâneas na redondeza, mas poderíamos tentar viajar por mais 80km em direção ao interior para uma cidade da qual não lembro o nome, onde talvez conseguíssemos. Diego não tinha ânimo de dirigir nem mais 1 km quanto mais 80. Decidimos que dormiríamos no carro. Fomos em direção ao centro da cidade procurando um lugar mais seguro para estacionar o carro e vimos um bar com uma placa que dizia “hotel”. Resolvemos checar. A visão do interior do local não era nada animadora e Diego nem queria entrar, mas eu o convenci, já que qualquer cama era melhor que um banco de carro que nem poderia ser deitado devido às bagagens. Assim que abrimos a porta, recebemos uma lufada de ar carregado de álcool. Pensem num bar com uns dez gatos pingados completamente bêbados. Ao fundo a escada que levava aos quartos, localizados no andar de cima. Fomos conversar com a garçonete, super simpática, que nos disse ter apenas um quarto com cama de solteiro disponível no momento. Nossa, foi como ouvir que era um quarto com cama king size e travesseiros de pluma de ganso. Topamos na hora. Nem vale a pena entrar em detalhes quanto a baixa qualidade do quarto. Estávamos com fome, e não havia nem um único lugar aberto na cidade para vender um sanduiche sequer, nadica de nada. Nesse bar havia uma máquina de junk food (amendoim, batata frita), que foi o que comemos acompanhado de cerveja pra tentar matar a fome. Conseguimos descansar o mínimo necessário para prosseguir viagem. No dia seguinte saímos de Bega às 8 da manhã, passamos por lindas paisagens costeiras,.

Lindíssimo por do sol

Paisagem costeira que nos acompanhou durante grande parte da viagem

Chegamos em Melbourne por volta de 7 da noite, ansiosos para chegar na nossa casinha, conhecer a dona da casa, tomar um belo banho e cair na cama. Outra puríssima ilusão. Fomos recebidos calorosamente pela dona da casa, que nos pediu mil desculpas “mas a casa havia acabado de ser construída e seria necessário fazer uma limpeza.”. Estávamos anestesiados de cansaço. Entramos na casa e vimos uma camada de pó branco no chão (acho que as paredes tinham sido lixadas), não havia armários, nem cama, nem cadeiras, apenas uma geladeira. Minha vontade foi dar meia volta e ir para um hotel, mas precisávamos economizar grana. Ela sequer ofereceu ajuda para fazer a limpeza, apenas trouxe o aspirador de pó, um balde e um esfregão. Estava um calor de matar (algo em torno de 42 graus, um dos dias mais quentes que vimos até hoje). Eu e Diego limpamos tudo, sem questionar, loucos para acabar logo. Inflamos nosso colchão de ar (ainda bem que levamos), comemos pão com atum e leite de soja que ela nos deu, e dormimos com o ventilador em cima de nós. No dia seguinte tivemos que dar uma faxina no banheiro, que ficava fora da casa e também estava uma lástima. Eu não conseguia acreditar na situação, mas agia no automático. Esse dia era 31/12 e à noite fomos com ela e as duas filhas para a casa de uns amigos em Santa Kilda, coração de Melbourne na baía de Port Philip Bay para a noite de Reveillon. Compramos uma garrafa de vinho, comemos churrasco com batata assada e salada, e quase não conseguimos esperar a virada de tão cansados. Caiu uma tempestade fortíssima, que escureceu todo o céu de Santa Kilda. Assim começou nosso ano de 2010.


Ventania forte, tive que segurar o vestido.

Temporal armando antes da virada…

Moramos nessa casa por quase três meses. Fica situada em St. Andrews, uma área rural de Melbourne, lindíssima, natureza exuberante. Vários pássaros que nunca havíamos sequer imaginado existir, muitos cangurus, coelhos, e coalas – esses últimos infelizmente nunca vimos.


O cottage onde moramos durante os dois primeiros meses

Teo curtindo a luz do nascer do Astro Rei

Esse banquinho fica de frente para uma montanha linda

Beladona – um perfume delicioso!

Canguru que sempre nos visitava – foto tirada da janela da cozinha

Incontáveis coelhos na região

Últimas da fazenda...

Cada céu estrelado de babar

Últimas da fazenda...

Pôr-do-sol de outono – me lembra o céu de Brasília!

Apesar de toda a beleza natural, eu queria mudar de lá desde o primeiro dia. Banheiro fora de casa nunca mais. O xixi noturno era um problema pois para chegar ao banheiro precisávamos dar vários bons passos, correndo o risco de pisar em cocô de cachorro e cavalo. Aí adotamos um baldinho vermelho para ser nosso penico – sucesso total! Mas teve uma noite em que eu bêbada de sono, terminei de fazer meu xixizinho no penico, e na hora de colocar de volta no chão, deixei o penico virar. Nossa, escorreu xixi para todo lado. Acordei Diego e fomos nós de madrugada limpar xixi. Além disso, recebíamos visitas diárias de aranhas enooormes, até Diego fazer maravilhosas fly screens (tela protetora contra insetos) para as janelas. Diego fez também um maravilhoso suporte de madeira para a mesa de jantar (pois a dona da casa só tinha o tampo), fez outro suporte para a bancada do escritório dele, cavou uma trincheira para evitar que a água da chuva entrasse em casa, ou seja, implementou várias melhorias na casa, além de ter ajudado a carregar armários, sofá e aquecedor que ela conseguiu emprestado com amigos. A dona da casa era um outro problema, bem grande. Uma carente emocional de carteirinha. Por várias vezes a consolei, ouvi suas lástimas e a deixei chorar no meu ombro. Mas fui me cansando, pois ela (inconscientemente, quero acreditar) suga toda e qualquer energia disponível ao seu redor, demanda demais de todos. Como em St.Andrews não há transporte público, eu pegava carona com ela para ir e voltar da escola, pois as filhas dela estudam na mesma escola onde estou fazendo meu curso (http://www.steinerseminar.com/). Essa convivência diária esgotou minha reserva de disponibilidade emocional com relação a ela e me fechei. Evitava longas conversas, me atinha ao básico. Sou super grata a ela pois através de um livro que ela me emprestou (“The Key to Self-Liberation-1000 Diseases and their psychological origins” da autora Christiane Beerlandt) eu tive insights maravilhosos sobre a causa do vitiligo que apareceu no meu olho direito há cerca de 2 anos atrás – recomendo o livro! Bem, queríamos nos mudar de lá mas ficávamos receosos pois lá pagávamos pouco. Até que surgiu uma oportunidade para mim e uma colega de curso, a Manda, uma indonesiana fofa, limparmos o jardim de infância todos os dias após a aula. Meu primeiro emprego em Melbourne, que me rende quase 200 dólares por semana por 9 horas de trabalho. O Universo é perfeito: para pegar esse part time job necessariamente nós teríamos que nos mudar de lá, pois eu não teria como voltar para casa sem a carona dela. Maravilha! Teríamos 3 semanas até o início desse emprego para encontrar um novo lugar para morar. No mesmo dia em que comunicamos essa decisão a ela, já surgiu um novo inquilino, que é um sul-africano que faz o curso junto comigo. Ótimo, tudo fluindo. Começamos a procurar casa para alugar. As imobiliárias aqui são muito rígidas na análise de cadastro, e não foi fácil conseguir aprovação. Visitamos várias casas, fizemos várias aplicações sem sucesso. E lá se foram as 3 semanas: eu teria que começar a trabalhar mas não teria como voltar para casa. A solução que arrumamos foi alugar um carro, o que levaria uma boa parte do que eu receberia, mas seria apenas até nos mudarmos. Conversando com a Manda sobre isso, ela simplesmente olha para mim e me diz que tinha um carro para me emprestar!!! Não pude acreditar! E assim foi: na mesma semana em que comecei a trabalhar, também fiquei livre das desgastantes caronas. Lindo!!!!!! E nessa mesma radiante semana resolvemos aplicar para um casa cujo anúncio já havíamos visto algumas vezes, mas não nos animávamos pois o contrato de aluguel é de apenas 6 meses, ou seja, teríamos que nos mudar novamente ao fim desse período. Novamente, Diego e sua bela intuição, e… bingo!! Fomos aprovados! Nossa, felicidade demais! A casa é linda, a nossa cara, fica a 10 minutos de caminhada até a estação de trem e ao centro comercial local, e a cinco minutos de uma academia e parque aquático maravilhosos. Mas não tínhamos móveis e nem utensílios domésticos, apenas uma excelente máquina de lavar roupas que compramos por 40 dólares em uma garage sale. Nem foi preciso esforço. Ganhamos um cama japonesa linda e super confortável da Anne, que trabalha no escritório da escola, uma TV em excelente estado do Geoffrey, um professor da escola, e uma geladeira frost-free de 480 litros antiga mas em excelente estado de um cara gente boa que encontramos em uma outra garage sale, com quem estávamos conversando casualmente e dizendo que estávamos atrás de uma geladeira, e ele “Pode pegar minha lá em casa, pois compramos outra recentemente”. A mesa, também de excelente qualidade, encontramos perdida na rua, assim como o criado-mudo, uma poltrona fantástica e um aspirador de pó. As pessoas fazem muito isso aqui, colocam itens dos quais querem se desfazer na frente das suas casas e quem quiser pode levar. Os utensílios de cozinha compramos de uma colega de curso que queria se desfazer das coisas do pai que foi morar na China, e nos vendeu super barato. Em lojas de artigos de segunda mão compramos uma M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-A máquina de café expresso por 17 dólares, um aquecedor por 5 dólares, uma torradeira Black & Decker por 4 dólares, e por aí vai. Assim montamos nossa casa. E estamos felizes demais, no nosso cantinho que é lindo!


Primeiro amanhecer na casa nova!!

Café da manhã: omelete, pão integral torrado com abacate e chá (!) + autobiografia do Rudolf Steiner + contrato de aluguel do nosso novo cantinho!!!!!! 🙂

Foto tirada de celular, já no nosso novo cantinho, pra mandar pro Igor, meu cunhadim querido!


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