Sydney é nossa nova morada
Eu sempre quis morar na praia. Apesar de ter nascido e crescido em Minas, e ser apaixonada por suas montanhas, rios e cachoeiras, meu coração sempre pertenceu ao mar. Desde pequenina, as férias escolares de janeiro eram sempre passadas em Guarapari, no litoral do Espírito Santo. Passado o natal, íamos todos pra casa de praia dos meus avós pra desfrutar um mês inteirinho ali. Primos e primas de primeiro e segundo grau, tias, tios, tios-avós, bisavó, bisavô e amigos afins. Era uma festa: atravessávamos a rua de paralelepípedos da casa da minha avó pra casa da minha bisavó como se fosse extensão do nosso quintal. E a praia estava a meros 100 metros de distância.
Foi ali na Praia do Morro que aprendi a pegar jacaré. Minha tia caçula começou a me ensinar desde cedo. Primeiro aprendi a pegar ondinhas com prancha de isopor, as quais minha avó tinha o super cuidado de cobrir com tecido de algodão pra que eu e meus primos não ficássemos com assadura na barriga – minha avó foi sempre muito carinhosa conosco. Com o passar dos verões, aprendi a furar ondas que às vezes pareciam imensos e assustadores paredões de água. Quando minha tia percebeu que eu já não sentia medo de correr em direção à onda e furá-la antes que ela quebrasse em cima de mim, ela me ensinou a escolher o momento certo de pegar a onda, dando braçadas fortes, e me deixar ser levada até a areia, sem prancha. Aquilo foi a glória da vida!
Tomei muitos caldos e caixotes, pois destemida que era, pegava ondas enormes pro meu tamanho miúdo, e várias vezes me embolava na onda, engolia água e me ralava toda na areia. Mas levantava com um sorriso no rosto e me jogava de novo nos braços de Iemanjá rumo a mais um jacaré. Ficava horas nesse vai e vem. Pra mim, o mar sempre foi sinônimo de diversão. Dentro da água, me sentia una, uma totalidade orgânica com a imensidão azul. Pro mar eu me entregava inteira e dele recebia vida.
Depois que comecei a trabalhar e poder viajar pra outros lugares, eu sempre queria ir pra praia. E quando conheci o Diego, descobri que o coração dele também pertencia ao mar. Ele é carioca, mas passou a maior parte da vida em Brasília, onde nos conhecemos; desde a primeira vez que viajamos juntos, o destino era sempre o litoral. Descobri que aquele que seria meu companheiro de vida, era também meu companheiro de jacarés. E por várias vezes conversamos sobre como gostaríamos de um dia morar numa cidade litorânea brasileira. Mas aí aconteceu a Austrália nas nossas vidas.
Quando viemos pra cá, fomos direto pra Melbourne. Tem praia em Melbourne? Tem. As praias de Melbourne tem ondas? Não. A água do mar é gelada? Super. Eu e o marido mais lindo do mundo íamos à praia em Melbourne? Talvez umas 5 vezes durante o ano, em dias bem quentes de verão, e ainda assim a água é gélida. Mas Melbourne tem vários outros encantos que nos seduziram por 6 anos, e fomos bastante felizes lá. Mas sempre que chegava o inverno, era a mesma conversa: queríamos mudar pra uma cidade mais quente e no litoral. E aí calhou do inverno do ano passado ser o mais frio dos últimos 20 anos, e decidimos que era hora de seguir o sol.
Assim que Diego anunciou no trabalho que tínhamos decidido sair de Melbourne, já o ofereceram um emprego em Sydney. Apesar de termos a princípio pensado em Brisbane, que é mais perto de Byron Bay onde um dia queremos morar, o Universo já havia arquitetado todo o plano; e eu depois me dei conta que eu co-criei essa sincronicidade, pois quando visitamos Sydney em fevereiro do ano passado, num arroubo de encantamento com a beleza da cidade, despretensiosamente declarei aos quatro ventos: “quero morar em Sydney, amor!” Não dizem que é preciso cuidar com o que falamos? É a mais pura verdade. E olha que nós até tentamos fazer com que Brisbane acontecesse, mas foi Sydney que nos recebeu de enseadas e mares abertos.
Após 2 meses nos organizando, empacotando e despedindo-nos de tudo e todos, no dia 27 de setembro do ano passado, deixamos Melbourne com corações empolgados. O Google Maps registrou a distância até nosso destino: 888 km; eu amo o jeito do meu Eu Superior conversar comigo através de números duplos e triplos; são pra mim confirmações de que estou seguindo meu coração.
Viemos com o carro lotado das coisas que não couberam no container de mudança, e de última hora Diego teve que ir atrás de um compartimento extra pra acoplar ao teto do carro. A viagem foi tranquila, com direito a lágrimas de saudades dos amigos que deixamos pra trás. Chegamos em Sydney à noite e quando cruzamos a Harbour Bridge meu coração suspirou ante a tanta beleza.
Tudo fluiu com naturalidade. Alugamos um apartamento pelo AirBnb enquanto procurávamos um canto pra morar. Diego teve uns dias de férias antes de começar no escritório de Sydney e eu já na primeira semana tive uma bem sucedida entrevista de emprego num jardim de infância Waldorf que é um encanto.
Visitamos alguns apartamentos até encontrar o nosso, que está a meros 100 metros da praia de Dee Why. Eu e o marido mais lindo do mundo fomos saudados por um grupo de golfinhos na nossa primeira manhã aqui, presente lindo de Gaia. Temos pegado jacaré quase todos os dias, e da varanda de casa vemos a lua nascer. Ainda continuamos sonhando com Byron Bay, mas a nossa casa está onde estão os nossos corações, que no momento, estão perdidamente apaixonados pela estonteante beleza de Sydney.
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Ninna, os seus posts são sempre uma inspiração pra mim! Me inspiram a ver a vida com mais leveza e a ter meu coração como guia. Eu vou lendo e fico arrepiada de tanta emoção. Choro em TO-DOS e nesse não foi diferente. As fotos estão maravilhosas! E achei graça do container LOTADO!!
Saudades sempre. Beijos pra vcs.
You are so gorgeous! Amor, amor, amor!